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sábado, 2 de julho de 2011

Crise econômica na Grécia

1-Por que a Grécia está nessa situação?
A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às alturas e os salários do funcionalismo praticamente dobraram. Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelo gastos a receita era atingida pela alta evasão de impostos, prática generalizada no país. A Grécia estava completamente despreparada quando chegou a crise global de crédito. O deficit no orçamento, ou seja, a diferença entre o que o país gasta e o que arrecada, foi, em 2009, de 13,6% do PIB, um dos índices mais altos da Europa e quatro vezes acima do tamanho permitido pelas regras da chamada zona do euro. Sua dívida está em torno de 300 bilhões de euros (o equivalente a US$ 400 bilhões ou R$ 700 bilhões). O montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje, eles exigem juros bem mais altos para novos empréstimos. Essa situação é particularmente preocupante, porque a Grécia depende de novos empréstimos para refinanciar mais de 50 bilhões de euros em dívidas neste ano.
2-Por que a situação causa tanta preocupação fora da Grécia?
Todo mundo na zona do euro - e qualquer um que negocie com a zona do euro - é afetado por causa do impacto da crise grega sobre a moeda comum europeia. Teme-se que os problemas da Grécia nos mercados financeiros internacionais provoquem um efeito dominó, derrubando outros membros da zona do euro cujas economias estão enfraquecidas, como Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. Todos eles enfrentam desafios para reequilibrar suas contas. Em março passado, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a classificação de Portugal de AA para AA-. Questões sobre o alto nível das dívidas na Europa foram levantadas em vários países.
3-O que a Grécia está fazendo quanto a isso?
A Grécia apresentou planos para cortar seu deficit para 8,7% em 2010, e para menos de 3% até 2012. Para alcançar isso, o Parlamento grego aprovou um pacote de medidas de austeridade para economizar 4,8 bilhões de euros. O governo quer congelar os salários do setor público e aumentar os impostos, e ainda anunciou o aumento do preço da gasolina. O governo ainda pretende aumentar a idade para a aposentadoria em uma tentativa de economizar dinheiro no sistema de pensões, já sobrecarregado.
4-Como essas medidas foram recebidas na Grécia?
De maneira nem um pouco positiva. Houve uma série de protestos no país, alguns violentos. Várias greves atingiram escolas e hospitais e praticamente paralisaram o transporte público. Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como especuladores internacionais e banqueiros da Europa central. Os dois maiores sindicatos do país classificaram as medidas de austeridade como "anti-populares" e "bárbaras".
5-O que acontece agora?
A Grécia precisa de 10 bilhões de euros até o mês que vem para cumprir suas obrigações financeiras. Com o pacote da UE e FMI, o país deve conseguir levantar essa soma, mas as condições exatas deste empréstimo ainda não foram acordadas. Se os detalhes foram definidos rapidamente e sem grandes problemas, o país conseguirá pagar sua dívida mais facilmente. Em teoria, isso deveria proporcionar uma queda nos custos de empréstimo do governo e o euro deveria voltar a se fortalecer, depois de ter sofrido queda nas últimas semanas por causa do medo de a Grécia não conseguir pagar suas dívidas.
6-A Grécia poderia simplesmente abandonar o euro?
Operadores de câmbio já demonstraram medo de que alguns países com grandes déficits no orçamento - como a Grécia, Espanha e Portugal - possam se sentir tentados a abandonar o euro. Ao deixar a moeda comum, o país poderia permitir a desvalorização de sua moeda e, assim, melhorar sua competitividade. Mas isso também causaria grandes rupturas nos mercados financeiros, provocando o medo entre os investidores de que outros países adotassem a mesma estratégia, potencialmente levando ao fim da união monetária. Mas a União Europeia já demonstrou que quer manter a zona do euro unida e descartou a ideia de que países iriam abandonar a moeda.
7-Como a situação da Grécia se compara a de outros países?
A Grécia não é o único país da zona do euro a violar a regra que afirma que o deficit orçamentário não deve ultrapassar 3% do PIB do país. Na Grã-Bretanha, que não está na zona do euro, esse deficit chega a 13% do PIB. Na Espanha ele chega a 11,2%, na Irlanda a 14,3% e na Itália a 5,3%.
8-O que a Grécia está fazendo para reverter a crise?
A Grécia apresentou planos para cortar seu déficit para 8,7% em 2010, e para menos de 3% até 2012. Para alcançar isso, o Parlamento grego aprovou em maio um pacote de medidas de austeridade para economizar 4,8 bilhões de euros. O governo quer congelar os salários do setor público e aumentar os impostos, e ainda anunciou o aumento do preço da gasolina. O governo ainda pretende aumentar a idade para a aposentadoria em uma tentativa de economizar dinheiro no sistema de pensões, já sobrecarregado.
ENTENDA A PREOCUPAÇÃO DO MERCADO
Temores sobre a saúde financeira da economia europeia espalharam pessimismo nos principais centros financeiros do mundo nesta semana. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a queda semanal foi de mais de 4%, enquanto os principais mercados da Europa perderam, em média, 3,7%.
O motivo de tanta preocupação é a dificuldade que alguns países europeus vêm enfrentando para conseguir empréstimos para refinanciar suas crescentes dívidas públicas. Isso acontece porque os países passam por um desequilíbrio fiscal devido à crise: com a arrecadação em baixa e os gastos em alta, eles gastam mais do que arrecadam.
Para analistas, no entanto, o risco de “calote” por parte desses países é pequeno. Na avaliação deles, embora o crédito restrito possa resultar em juros cada vez mais altos e tempos difíceis para a economia, as nações não devem parar de pagar suas dívidas. O maior temor dos mercados é que os problemas desses países sejam um indicativo de que a recuperação da economia global depois da crise tenha formato de “W”, ou seja, uma ligeira melhora seguida por nova queda e posterior recuperação definitiva.
Para Miguel Daoud, diretor da consultoria Global Financial Advisor, “não existe calote na Itália, muito menos na Espanha e em Portugal. O que existe é uma dificuldade desses países na rolagem de suas dívidas”.
Ele explica que esses países estão enfrentando dificuldades com a relação entre dívida e PIB, considerada alta, mas há países em que ela é ainda maior, como no Japão, onde chega a 160%. “O impacto que isso pode ter é encarecer o custo da divida. Isso aumenta o desemprego, encarece os investimentos e o país passa por um período difícil”, explica Daoud. O especialista se diz mais preocupado com a situação econômica da Argentina e da Venezuela e com a questão do controle sobre os bancos nos Estados Unidos.
GRÉCIA- Como já visto, a Grécia é o caso mais emblemático e mais preocupante do grupo: o país tem a maior dívida da zona do euro, que deve atingir 120% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. No dia 5 de maio, a União Europeia aprovou com ressalvas o plano fiscal de três anos da Grécia para reduzir seu déficit fiscal. O euro, moeda do bloco, poderia ter grande desvalorização se a Grécia der um calote, mas o país e a UE disseram que isso não acontecerá e que o país não precisará de ajuda financeira. O plano da Grécia prevê que o déficit fiscal do país volte a menos de 3% do PIB em 2012. No ano passado, o déficit ficou em cerca de 13%. O déficit fiscal é a diferença entre a receita do país com tributos e outras fontes de arrecadação e os gastos. Sem dinheiro sobrando, o país tem mais dificuldades para pagar suas dívidas.
PORTUGAL- No ano passado, Portugal registrou um déficit fiscal de 9,3% do PIB, maior do que o esperado. Enfrentando pressão para reparar suas finanças, o governo português prometeu reduzir o déficit para 8,3% do PIB neste ano. A União Europeia deu a Portugal até 2013 para reduzir o déficit para menos de 3% do PIB, o limite máximo aceito pelas regras do bloco. O governo português disse que o déficit maior do que o esperado no ano passado resultou de um declínio da arrecadação. Em 2010, o governo tentará limitar os gastos por meio do congelamento de salários de empregados do setor público e da tentativa de reduzir a folha de pagamento do governo. Em dezembro, as agências de classificação de risco Moody's e a Standard & Poor's alertaram para possíveis rebaixamentos na avaliação da dívida de Portugal. "Todo mundo tem se concentrado na Grécia, mas agora as pessoas estão acordando para o fato de que não se trata apenas da Grécia", disse o analista de câmbio Ian Stannard, do BNP Paribas.
ITÁLIA- Outro país que preocupa os investidores é a Itália, economia bem maior que Grécia e Portugal, mas que também enfrenta dívidas altas e crescimento econômico fraco, que deixa pouca margem para o governo sair da situação fiscal desfavorável. A preocupação dos analistas é de que a UE até poderia resgatar a Grécia e Portugal, mas não a Espanha e Itália, países bem maiores.
ESPANHA- Apesar de ter uma economia mais forte do que as de Grécia e Portugal, a Espanha tem um problema de endividamento privado, principalmente de mutuários de empréstimos habitacionais que se viram em apuros quando a bolha imobiliária do país estourou. Os grandes bancos espanhóis são sólidos, mas há problemas nas cajas de ahorro, instituições regionais de pequeno porte com foco em poupança e hipotecas e que tiveram um forte aumento da inadimplência. A recessão no país é profunda: a taxa de desemprego chegou a 20%. Sua dívida pública, em proporção do PIB, é metade da grega (53,2%). Porém, como trata-se de uma economia muito maior, em volume, o endividamento espanhol (de 1 trilhão) faria um estrago enorme em caso de insolvência e é isso que preocupa os investidores.
CRISE NA EUROPA FREIA INTERESSE PELO BRASIL
A crise da Europa ameaça acabar com a lua de mel do mercado internacional com o Brasil. Nem tanto por razões domésticas, mas porque um eventual prolongamento das turbulências tende a secar os recursos disponíveis mundo afora para aplicações em ativos considerados de risco, como os brasileiros. As incertezas dos últimos dias já fizeram estragos no País - por enquanto, restritos à área financeira, sem afetar a economia real.
Os estrangeiros tiraram quase R$ 900 milhões da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos três primeiros dias úteis de maio. A média diária de saída (próxima a R$ 300 milhões) supera até mesmo a do pior momento da crise global. Em outubro de 2008, deixaram a Bolsa R$ 4,7 bilhões, valor recorde dos últimos anos. Na média diária, eram R$ 213 milhões.
No mercado futuro de câmbio, os estrangeiros passaram a apostar na desvalorização do real. Até o início deste mês, esses investidores tinham uma posição de US$ 2,6 bilhões a favor da moeda brasileira. Terça-feira, inverteram a posição rapidamente. Agora, a posição está em US$ 2,5 bilhões a favor da alta do dólar.
Essa é uma das razões que explicam o ganho de 6,45% da moeda americana nos cinco primeiros dias úteis de maio. Na sexta-feira, o dólar valia R$ 1,85, ante R$ 1,74 no fim do mês passado.
Créditos: Rodrigo Constantino, formado em Economia, MBA de Finanças | R7 | BBC Brasil | G1 | Reuters

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