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quinta-feira, 3 de março de 2011

Entenda a crise na Líbia

A Líbia é o terceiro país da região conhecida como mundo árabe a enfrentar uma onda de revolta popular que pode culminar com o fim do regime do presidente, o ditador Muammar Kadhafi, no poder há quase 42 anos.
Antes da Líbia, a onda de protestos em países no Oriente Médio e norte da África, inspirados no levante que derrubou o presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, também provocou a renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, que estava havia 30 anos no poder. Os protestos se espalham também por Jordânia, Iêmen, Argélia, Mauritânia, Marrocos, Sudão e Omã.
No caso da Líbia, os protestos iniciaram no leste do país, onde a popularidade do ditador é historicamente mais baixa. As cidades de Benghazi, segunda maior do país e epicentro dos protestos, Tobruk e Derna, já foram tomadas por oposicionistas. Mas cidades mais próximas à capital Trípoli, como Minsratah e Zawiya também já estariam sob controle dos rebeldes, segundo jornalistas e moradores. O comando está na mão de "conselhos populares" que foram se formando ao longo dos últimos dias.
Nesta região, limitada ao norte pelo Mediterrâneo e ao sul pelo deserto, ficam as preciosas jazidas de petróleo que respondem por mais da metade do PIB do país, o 12º maior exportador do mundo.
Na capital, Trípoli, onde o acesso da imprensa foi proibido, a dura repressão às manifestações provocaram protestos de diversos países do mundo, além da ONU e organizações de direitos humanos.
O número de vítimas desde o início da violenta repressão aos protestos é incerto. O governo deu um balanço de 300 mortos. A Ong Federação Internacional de Direitos Humanos falou em 640. Mas outros relatos falam em milhares de mortos nos enfrentamentos abertos entre tropas e manifestantes.
Em pronunciamentos transmitidos pela TV estatal líbia, Kadhafi já disse que só deixará o país morto, “como um mártir”. Além disso, afirma que os manifestantes antigoverno estão à serviço do líder da rede terrorista da al-Qaeda, Osama bin Laden, que estariam tomando drogas alucinógenas e sendo manipulados.
Golpe levou ao poder
Kadhafi está no poder desde que depôs o rei Idris I, em 1969, em um golpe de estado sem derramamento de sangue, quando tinha 27 anos. Em 1977, ele criou o conceito de “Jamahiriya” ou “Estado das massas”, em que o poder é exercido através de milhares de “comitês populares”.
Seu “Livro Verde”, que costuma ler durante os discursos e serve de Constituição do país, foi publicado nos anos 70 e resume seu sistema de “democracia islâmica”, apresentada como uma alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com aspectos do islamismo.
Com fama de extravagante e nacionalista, o ditador líbio costuma dormir em uma barraca beduína durante suas viagens internacionais e não dispensa a sua guarda feminina, entre as quais, segundo despachos vazados pelo WikiLeaks, uma “voluptuosa loira” que o acompanha em todos os deslocamentos.
Exotismos à parte, foi um político habilidoso em tirar o país do isolamento diplomático na última década. Nos anos 80, seu regime apoiou grupos terroristas como o Setembro Negro, que assassinou atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique e o grupo separatista basco ETA, acusado de centenas de mortes na Espanha.
Kadhafi também negou a extradição do terrorista líbio Abdel Basset al Megrahi, que em 1988 foi acusado de colocar uma bomba num voo da PanAm que explodiu na Escócia, matando 270 pessoas.
Nos anos 90, assumiu responsabilidade pelo ataque ao voo e pagou indenização aos familiares das vítimas, pondo fim a anos de sanções da ONU (Organização das Nações Unidas). Em 2003, foi tirado da relação de países com ligações com terroristas pelo então presidente dos EUA, George W. Bush.
Em 2008, a ONU aceitou que o país participasse do Conselho de Segurança como membro não permanente e em 2010 a Líbia foi eleita para o Conselho de Direitos Humanos da organização.
Economia
O fim do isolamento também impulsionou ainda a economia do país, atraindo investidores estrangeiros e grandes petroleiras, como a BP e a Exxon Mobil. Algumas destas empresas já estão retirando funcionários do país.
Analistas temem que a intensificação dos protestos possa interromper o fornecimento de petróleo e gás natural para países europeus, o que poderia provocar uma crise com potencial para desestabilizar a economia global.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Líbia cresceu 10,6% ano passado, e a previsão é de que venha a crescer cerca de 6,2% em 2011. Mas uma das principais razões por trás dos protestos é que essa riqueza não está chegando à população.
Cerca de um terço dos líbios vive na pobreza. Alguns dos problemas apontados pelos manifestantes que pedem o fim do regime de Kadhafi sãos os mesmos dos jovens egípcios: alto desemprego, alto preço dos alimentos, importação da maior parte dos alimentos necessários ao abastecimento e gastos exorbitantes com arsenal militar.
Do G1, com agências internacionais

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