Após ser alvo de críticas por não ter colocado em prática "respostas mais contundentes" à Coreia do Norte, o ministro da Defesa sul-coreano, Kim Tae-young, apresentou sua renúncia ao cargo, enquanto Seul decidiu enviar tropas a cinco ilhas do Mar Amarelo, Pyongyang rejeitou cooperação com a ONU e a China condenou os exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e EUA.
A demissão já foi aceita pelo presidente sul-coreano Lee Myung-bak, informou a agência estatal Yonhap.
A renúncia chega dois dias depois do ataque norte-coreano à ilha Yeonpyeong, situada numa região disputada pelas duas Coreias, que matou dois civis e dois militares sul-coreanos.
Após críticas, ministro da Defesa sul-coreano apresentou renúncia, já aceita pelo presidente Lee Myung-bak
O governo já havia recebido duras críticas da oposição, que pediu a saída de Kim e demandou respostas "mais contundentes" frente às ameaças de Pyongyang. Membros do próprio partido de Lee e parlamentares da oposição acusaram o governo de ser demasiado fraco e responder tarde demais.
"Por que nós disparamos apenas 80 morteiros quando o Norte disparou 170?", perguntou Sim Dae-Pyeong, presidente do opositor Partido do Povo.
Os legisladores também questionaram Kim sobre a aparente falta de informações da inteligência sobre o ataque.
VISITA, REJEIÇÃO AO DIÁLOGO E NOVAS AMEAÇAS
Mais cedo nesta quinta-feira o jornal "Joongang Daily" informou que, de acordo com uma "fonte governamental bem informada", o líder norte-coreano Kim Jong-il e seu filho sucessor Kim Jong-un visitaram a base de artilharia de onde foram feitos os disparos contra a ilha sul-coreana na terça-feira.
A Coreia do Norte rejeitou ainda a oferta de diálogo feita pelo Comando das Nações Unidas na península, liderado pelos EUA e encarregado de supervisionar o armistício com o qual foi finalizada a Guerra da Coreia (1950-53).
Fumaça pode ser vista em local atingido por bombardeio norte-coreano, na ilha Yeonpyeong, no disputado mar Amarelo
O Comando propusera na quarta-feira que Pyongyang realizasse uma reunião militar em nível de generais para abordar a atual situação de tensão entre as Coreias. Pyongyang rejeitou a proposta por considerar que "aparentemente não vê benefícios práticos nas conversas", informou um porta-voz do Ministério da Defesa da Coreia do Sul citado pela agência sul-coreana Yonhap.
O regime comunista ameaçou a possibilidade de novos ataques. "A RPDC, que se preocupa muito com a paz e a estabilidade na península coreana, está dando provas de um autocontrole sobrehumano, mas as peças de artilharia do Exército da RPDC, que defendem a Justiça, continuam prontas para disparar", afirma um comunicado de Pyongyang.
MAIS TROPAS
Ainda respondendo às críticas de parlamentares da oposição e de sua própria base aliada, o governo sul-coreano enviou tropas a cinco ilhas o Mar Amarelo, incluindo a que foi alvo de disparos de Pyongyang, e anunciou que deve alterar as regras militares de seu Exército.
Tradicionalmente as tropas sul-coreanas recebem instruções de resguardar as fronteiras mas tentar evitar a escalada de tensão no caso de provocações do Norte, buscando evitar a retomada dos confrontos encerrados em 1953.
No entanto, após o recente ataque, o governo sinaliza que pode repensar o papel muito "passivo" frente ao vizinho.
"O governo sul-coreano decidiu aumentar suas forças, incluindo tropas em terra, em cinco ilhas do Mar Amarelo" ao noroeste da Coreia do Sul, declarou Hong Sang-Pyo, um alto funcionário da Presidência, após uma reunião de emergência convocada pelo presidente sul-coreano Lee Myung-bak, que sofreu críticas ainda na quarta-feira pela demora em responder aos ataques do Norte.
CHINA
Após o anúncio dos exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e Estados Unidos (que devem ser realizados neste domingo) e respondendo às pressões de Washington e Seul para que se exercesse pressão sobre a aliada Coreia do Norte, a China se pronunciou nesta quinta-feira contrária à realização das manobras e pediu contenção às Coreias.
A China rejeita "qualquer provocação militar", declarou nesta quinta-feira o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, em uma visita a Moscou.
Mais tarde, o ministério chinês das Relações Exteriores destacou que a China está preocupada com as manobras militares conjuntas dos Estados Unidos e Coreia do Sul.
"A China se opõe a qualquer ação que mine a paz e a estabilidade na península coreana e expressa sua preocupação com estas manobras", declarou o porta-voz da chancelaria, Hong Lei.
A China não condenou o ataque do aliado norte-coreano que matou quatro pessoas e provocou muitos protestos internacionais, mas o porta-voz da chancelaria manifestou "pena e pesar" pelas vítimas.
Além disso, o ministro das Relações Exteriores da China adiou uma visita prevista à Coreia do Sul, anunciou Seul nesta quinta-feira.
PAPEL DA CHINA
A paz na península Coreana depende muito da China, segundo Heni Ozi Cukier, professor de Relações Internacionais da ESPM e especialista em resolução de conflitos internacionais ouvido pela Folha.com.
As duas Coreias vivem em uma tensa paz desde a assinatura de um armistício em 1953, com ataques e provocações esporádicos. Tecnicamente, ainda estão em guerra.
As únicas soluções possíveis seriam uma transição de poder no rígido regime norte-coreano ou, então, uma mudança no posicionamento da China, diz Cukier.
A primeira possibilidade já está praticamente descartada, visto que o líder Kim Jong-il deve passar o bastão a seu filho mais novo, Kim Jong-un.
A outra possibilidade seria a China exercer maior pressão sobre a Coreia do Norte, mas isso também não parece perto de acontecer, avalia Cukier, que já trabalhou no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e na OEA (Organização dos Estados Americanos). A China é o único grande aliado e principal parceiro econômico do regime norte-coreano.
EXERCÍCIOS MILITARES
Os EUA e a Coreia do Sul anunciaram nesta quarta-feira que no domingo (28) devem conduzir manobras militares no litoral da península, um dia depois do ataque norte-coreano a uma ilha sul-coreana.
EUA e Coreia do Sul anunciaram manobras militares após ataque do regime de Pyongyang contra ilha sul-coreana
As forças americanas também planejam enviar pelo menos quatro navios de guerra para as operações militares, que segundo o Ministério de Defesa sul-coreano são de caráter "dissuasivo" e defensivo frente a Coreia do Norte.
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
AFP
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