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segunda-feira, 6 de junho de 2011

A chegada de Ollanta Humala ao poder, a revanche do outro Peru

A chegada do esquerdista Ollanta Humala à presidência do Peru representa uma revanche para os esquecidos da economia próspera, como os indígenas andinos e amazônicos, com expectativas a serem satisfeitas pelo próximo presidente.
Humala perdeu a eleição presidencial em 2006 pelo medo que havia de sua afinidade com o socialismo estadista do presidente venezuelano Hugo Chávez, mas desta vez usou o temor a seu favor: a possível volta dos abusos da presidência de Alberto Fujimori (1990-2000), preso por violação dos Direitos Humanos e corrupção, caso a filha Keiko Fujimori fosse eleita.
O candidato de esquerda "relembrou com insistência aos peruanos os casos de corrupção do governo de Fujimori e associou a isso a adversária Keiko, que na época era a primeira-dama do regime", afirma Luis Benavente, cientista político da Universidade Católica de Lima.
A prioridade de Humala é repartir o crescimento (de 8,7% em 2010) num país com uma das maiores desigualdades do mundo, continuou.
Na verdade, a prosperidade de Lima, uma cidade costeira onde vive um terço dos 28 milhões de habitantes, ignora desde sempre o Peru do interior, dos Andes e da Amazônia, de maioria indígena, com altos níveis de pobreza (60% para a região andina contra 34% do total do nacional).
"É um voto dos excluídos, do povo dos Andes e da selva amazônica, dos indígenas que se sentem excluídos da divisão da riqueza", disse Georges Lomné, diretor do Instituto de Estudos Andinos (Ifea) em Lima.
Para este historiador, mais do que um voto de esquerda "é um voto étnico do outro Peru" com a bênção dos intelectuais.
As elites econômicas deveriam ter percebido a chegada da vitória de Humala, afirma Benavente.
"O modelo liberal vinha sendo conduzido no Peru com muito autoritarismo, além de falta de consenso político, e muita imposição. Era um modelo liberal que acredita na liberdade econômica, mas não acredita numa verdadeira liberdade política", afirmou.
Esse modelo "agora está colhendo o que semeou nesse tempo em que não considerou as reivindicações de outros setores sociais", acrescentou.
O resultado eleitoral mostra claramente a existência de dois países: das 25 regiões, Keiko Fujimori venceu em 8, das quais 7 correspondem ao litoral e apenas uma a região andina.
Humala, por outro lado, venceu em todos as zonas eleitorais andinas, com exceção de uma, e em toda a Amazônia, que são as zonas mais pobres do Peru.
Num país, considerado o pior da América Latina quanto ao sistema educacional, de baixos salários e de presença do trabalho informal (73%), Humala transmite grandes esperanças de uma melhor distribuição do crescimento médio de 5% nos últimos 10 anos.
"Seu grande desafio será pôr em prática políticas concretas para beneficiar os pobres, transformar realmente o Peru num país mais justo e integrado socialmente", explica Jo-Marie Burt, cientista política do centro de análise Wola sobre a América Latina.
No entanto, o país deve, antes, atrair investidores e mercados. Muitos peruanos têm tirado dinheiro do país, investidores têm cancelado projetos e a Bolsa de Lima caiu 8,71% na abertura desta segunda-feira.
"Esse é um ponto crítico, porque não se trata apenas de convencer os peruanos de uma boa governança e apoio social, pontos fortes da imagem de Humala como futuro presidente", disse Benavente.
No domingo, Daniel Abugattás, porta-voz de Humala ironizou os temores despertados pelo programa econômico.
"Confirmando-se o novo presidente, Ollanta vai respeitar rigorosamente a propriedade privada; não vai retirar as galinhas e os cães de ninguém e vai garantir os investimentos nacionais e estrangeiros", frisou.
Fonte: Terra

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