Recentemente, a agência espacial americana (Nasa) anunciou um código "vermelho" de segurança pelo risco de fragmentos de lixo espacial chocarem-se com a Estação Espacial Internacional (ISS) - pediu que os três tripulantes da estação estivessem prontos para se refugiar na nave Soyuz. O choque acabou não acontecendo, mas reacendeu uma questão complicada e, aparentemente, sem solução.
O número de objetos soltos no espaço e considerados "lixo" cresce sem parar a cada ano e preocupa as agências espaciais pelos problemas que pode causar às missões e ao funcionamento dos sistemas de telecomunicações. Enquanto hoje existem cerca de 900 satélites ativos orbitando a Terra, outros 19 mil objetos maiores do que 10 cm são considerados lixo espacial.
Estes materiais são suficientemente grandes para serem catalogados pelas agências espaciais e monitorados, permitindo que satélites possam desviar suas rotas em caso de perigo de colisão. Mas o que preocupa mesmo os cientistas são os objetos menores, que não podem ser evitados.
"A situação não é nada confortável. Existe uma listagem de objetos visíveis, fora os milhões de objetos maiores que 1 mm de diâmetro. É uma quantidade significativa de material abandonado pelo homem orbitando o nosso planeta sem utilidade alguma", diz o físico do Laboratório de Astronomia da Pontífica Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Marcelo Emilio Bruckmann.
"Existe toda sorte de objetos: satélites desativados, estágios de foguetes lançadores, ferramentas utilizadas em missões ou até mesmo objetos pertencentes aos próprios astronautas", diz Bruckmann. "Depois do lançamento do Sputink, em 1957, o espaço não foi mais o mesmo. O detrito mais antigo que se tem registro é um satélite lançado em 1958 e desativado 6 anos depois, ou seja, temos lixo espacial com idade de 53 anos", completa.
Segundo o físico, a possibilidade de uma pessoa ser atingida por um pedaço de satélite existe, mas é insignificante. "A probabilidade da queda de um detrito no solo é de um terço em relação à superfície total do planeta Terra. Temos que levar em consideração a chance de a queda ocorrer numa área remota e não podemos esquecer a proteção de nossa atmosfera: o detrito provavelmente irá se fragmentar na reentrada, podendo, inclusive, 'evaporar'".
Ele lembra que problemas em missões espaciais já foram evitados a partir do desvio de trajetória como decorrência da presença de detritos, "mas com o acúmulo de lixo espacial, essas manobras seriam cada vez mais necessárias, dificultando a operacionalidade das missões", diz.
Mas então, o que fazer? Muitas organizações já sugeriram formas de minimizar os detritos, como reduzir o número de objetos que são deliberadamente deixados no espaço, como tampas de lentes, ou até mesmo retirando satélites que não estão mais em uso, colocando-os nas chamadas "órbitas-cemitério". Esta última solução não seria eficaz, segundo o físico do Laboratório de Astronomia da PUCRS .
"Nesse tipo de solução, recaímos no critério custo/benefício. A mesma missão que seria responsável pela colocação do detrito numa órbita não comercial poderia proporcionar uma solução mais definitiva", opina o especialista.
Ele diz que uma ampla discussão sobre os objetivos dos programas espaciais e sobre a responsabilidade direta dos objetos colocados em órbita ajudariam a reduzir os resíduos.
"Podemos pensar da seguinte forma: se o objeto foi colocado ele pode ser retirado. Entretanto, esbarramos no custo operacional de tal manobra. Algumas propostas já foram colocadas em prática, mas há muito que limpar", diz.
Bureau Assessoria e Conteúdo - Especial para o Terra
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