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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Crise econômica na Irlanda

A situação financeira da Irlanda está no topo da agenda de um encontro entre autoridades da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Entre temores de que uma crise na economia irlandesa possa desencadear um contágio no resto do continente, o governo tem sido pressionado a aceitar ajuda do bloco comum.
1- Qual é em síntese o problema com a economia da Irlanda?
 Apelidada de "tigre celta" por causa do seu elevado ritmo de crescimento econômico, a Irlanda foi do "boom" ao desastre financeiro em um período de apenas três anos.
 Muito do crescimento do período pode ser atribuído à expansão do mercado imobiliário, que desde 2008 se retraiu dramaticamente.
 O preço dos imóveis caiu entre 50% e 60%, e os empréstimos de risco -,sobretudo na forma de crédito para as construtoras- se acumularam no portfólio dos principais bancos do país.
As finanças do país também estão sendo afetadas pela queda na arrecadação de impostos.
A diferença entre o que o governo gasta em serviços públicos e o que recebe em impostos e taxas atinge o insustentável patamar de 12% do PIB.
 À medida que a economia se retrai, cresce o desemprego e aumentam os temores de que o país esteja à beira de uma volta à recessão.
2- Por que a crise irlandesa preocupa outros países?
 A situação financeira da Irlanda preocupa especialmente os países financeiramente menos sólidos da zona do euro, como Espanha e Portugal, que também estão com as finanças apertadas.
 O temor é que esses países não sejam capazes de pagar os seus credores, que por sua vez tendem a restringir os empréstimos.
Se a economia irlandesa colapsar, as empresas britânicas perderão negócios de um cliente que compra delas mais mercadorias que Brasil, Rússia, Índia e China juntos.
3- A Irlanda insiste em que não precisa de ajuda. É verdade?
 É verdade que o governo acredita ser capaz de honrar todos os seus compromissos até meados do ano que vem sem a necessidade de ir ao mercado para levantar recursos.
 Além disso, nas ruas, é comum perceber de muitos irlandeses uma certa relutância em aceitar o pacote da ajuda da UE.
 A república se orgulha de sua solvência e de sua independência financeira, e uma ajuda europeia seria vista como sinal de uma humilhante dependência em relação ao bloco.
 O ministro irlandês das Empresas, Batt O'Keeffe, sintetizou este sentimento ao afirmar: "a soberania do nosso país foi conquistada a muito custo, e o governo não abrirá mão dela em favor de ninguém".
 A Irlanda teme que, junto com a ajuda da UE, venham condições como a elevação de seu imposto sobre pessoas jurídicas, que, fixado em 12,5%, é um dos principais instrumentos para atrair investimentos externos.
 Por outro lado, uma grande preocupação são os bancos privados. Como vários foram parcialmente nacionalizados, a dívida que era das instituições também passou a ser assumida pelo governo.
 Estes bancos estão tendo dificuldade para levantar empréstimos no mercado e dependem do suporte do Banco Central Europeu.
 Uma estimativa do banco britânico Barclays Capital indica que mais de 10% de todos os empréstimos e financiamentos feitos pelos bancos irlandeses -em outras palavras, os seus ativos- estão sendo financiados com recursos do BCE.
4- De quanto seria a ajuda e de onde viria?
 Para ser bem-sucedido, a ajuda teria de ser volumosa o suficiente para afastar os temores de contágio da economia europeia por possíveis perdas registradas no futuro pelo sistema financeiro irlandês.
 Algumas estimativas indicam que o montante teria de chegar a € 80 bilhões (quase R$ 190 bilhões).
 Há diversas possíveis fontes de financiamento, incluindo o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (EFSM, na sigla inglês), que poderia prover até € 60 bilhões, e o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF), constituído por € 440 bilhões em garantias de governos da zona do euro.
 O Fundo Monetário Internacional (FMI) já afirmou que poderia entrar no pacote, emprestando até 50% do total provido pela União Europeia.
 Outras fontes de financiamento podem aparecer na medida em que os países devem tentar evitar que os recursos de fundos como o EFSM sejam esgotados em uma única operação de salvamento.
 Há ainda o caso de países europeus que não fazem parte da zona do euro, como a Grã-Bretanha, que contribui para o caixa da União Europeia e do FMI.
5- O que o governo irlandês tem feito para melhorar o estado de sua economia?
A administração acredita que as medidas já anunciadas e ainda por anunciar reforçarão a confiança na economia do país.
 O ministro para a Europa, Dick Roche, disse à BBC que o país pretende reduzir o seu déficit orçamentário dos atuais 12% para cerca de 3% do PIB até 2014.
 Entretanto, analistas têm apontado que esta meta seria difícil de cumprir ainda que o país estivesse registrando crescimento econômico vigoroso -o que não é o caso.
 O governo deve anunciar um plano de recuperação fiscal para os próximos quatro anos, que detalhará o que deverão ser cortes sem precedentes para a economia irlandesa.
 A Irlanda teria de convencer os investidores de que é capaz de implementar o ambicioso plano de redução de gastos e outras medidas impopulares, como a elevação de impostos.
 Esse problema foi enfrentado na Espanha, cujo plano de austeridade do governo não foi percebido como crível pelos mercados.
 Na Irlanda, entretanto, a sociedade poderia apoiar as medidas, na avaliação de Sonia Pangusion, analista para o país da consultoria IHS Global Insight.
Fonte: UOL Economia

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